Sandra Fayad Prosa e Versos
terça-feira, 2 de abril de 2019
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
quinta-feira, 9 de agosto de 2012
CAMPANHA CERRADO FÊNIX
CAMPANHA CERRADO FÊNIX :ENTRE NESTA!
http://www.recantodasletras.com.br/mensagens/3218845
sexta-feira, 15 de junho de 2012
MÃE-TERRA
Sandra Fayad
- Alô, Mãe-Terra!
- Como vai, filha? Que bom que me ligaste!
- Estás ocupada?
- Sim. Mas não te preocupes. Posso interromper um
pouco.
- Liguei para contar que hoje acordei com vontade
de escrever uns versinhos para a senhora. Quer ver?
- Ah, quero sim.
“Mais quente que
Marte
Menos fria que
Vênus
És da vida o
baluarte
És a pátria dos
terrenos.”
- Que lindo! Muito obrigada, filha.
- Mereces muitas homenagens por tudo o que nos tem
dado e por todos os sacrifícios, que só uma mãe dedicada é capaz de fazer. A
propósito, como anda a tua saúde?
- Ih, esse assunto é pra mais de légua...
- O que foi? Tens mania de esconder as dores
embaixo do Manto Inferior. Mas agora quero que me contes tudo.
- São dores por toda a natureza, desde o pólo norte
até o pólo sul. Cada dia, fico mais destemperada. Ora me derreto de calor, ora
me encolho de frio, independentemente das estações. Às vezes, sinto muita febre.
Vem lá do meu Núcleo Interno em direção à Crosta. Ardo em brasas vulcânicas. Dizem
os Raizeiros da Amazônia que estou entrando na menopausa. Ando intoxicada com a
poluição também. Sinto muita falta de ar. Reclamei sobre essa fumaceira tóxica,
mas os donos das indústrias contestaram. Dizem que é frescura minha e que
precisam produzir novos materiais a baixo custo, para fazer a economia dos
países crescer, enriquecer, progredir. Já não consigo amamentar a fauna, nem
nutrir as raízes da flora. Elas não estão se adaptando aos sabores ácidos nem
do meu leite doce ou salgado. Muitas espécies importantes já foram extintas e
outras estão em fase de extinção. Para completar, agora apareceram umas
alergias, que rasgam minha camada superficial, criando fissuras por toda Crosta.
Chamam isto de erosão. Estou fragilizada e feia, filha.
- Isso é grave. Você já consultou os Especialistas
da Medicina?
- Alguns estão realmente preocupados – são filhos
amorosos como tu. Querem eliminar as influências externas que estão me
prejudicando por dentro, querem fazer campanhas a favor da vida, mas esbarram
em tanta burocracia, em tantos interesses econômicos, que muito pouco conseguem
fazer. Outros enfiam suas cabeças em laboratórios de pesquisa, para buscarem
fórmulas químicas mágicas. Querem modificar minha corrente sangüínea, controlar
meu temperamento. Acham que minha força precisa ser domada, moldada aos desejos
dos grandes interesses internacionais. Coitados! Pensam que sabem tudo sobre
mim e que vão controlar meus sopros e espirros sobre mares e montes ou os
fluxos e refluxos das minhas marés. Se saio arrebentando tudo pela frente e soltando
faíscas por toda a parte, é porque não me respeitam. Não vêem que essas reações
são conseqüências dos seus erros do passado recente. Esquecem que sou eu a mãe,
a provedora das suas necessidades, a própria subsistência deles e de seus
descendentes.
- Já disseste isto a eles?
- Já lhes disse que se eu sucumbir, irão junto
comigo. Já expliquei também que só necessito de tratamento fitoterápico e que
podem abandonar suas fórmulas mágicas, pois nada substituirá o tratamento natural.
Minha recuperação está nos cuidados com meus pêlos verdes, minha crosta, meus
minerais. Basta que os preservem e os usem racionalmente.
- E o que responderam?
- Rebelaram-se. Disseram que têm planos para me
depilar toda. Precisam viabilizar obras gigantescas, como o túnel que vai da
América do Norte à Europa. Querem também
esgotar a exploração de matéria-prima da minha crosta para construir mais usinas,
mais veículos, mais cidades. Estão
loucos porque o petróleo está acabando.
- Fizestes algum exame de saúde?
- Sim. Fiz uma densitometria. Descobriram que minha
estrutura mineral está bastante comprometida, por causa do crescimento
desordenado das cidades e do uso inadequado do solo. Chamam isto de terrosteoporose.
Os exames mostraram também que o gás ozônio está me causando radiação
ultravioleta, com lesões irreversíveis na minha crosta, e queda da capacidade
imunológica.
- Ainda assim, consegues trabalhar?
- Mais ou menos. Já não posso plantar onde estou e
nem colho o que planto onde consigo plantar. Os que pensam no seu futuro e,
conseqüentemente, no dos seus descendentes protestam a meu favor porque sabem
que estão e estarão sempre ligados a mim pelo cordão umbilical. Mas a grande
maioria não se importa. Quer viver apenas hoje. Comporta-se como se fosse imortal.
Nem mesmo com as gerações futuras quer compromissos. Eles dizem que quando eu
não servir mais para nada, vão se mudar para outro planeta. Estão de olho em
Marte.
- Mas lá não é muito frio?
- É. Mas estão procurando um jeito de torná-lo
habitável. Vê como são as coisas! Passei milênios dando-lhes o pão de cada dia
e eles não reconheceram a minha dedicação e o meu desprendimento. Nunca me
disseram: - Muito obrigado, Mãe-Terra. Ao contrário, agiram como filhos
ingratos e insaciáveis. Sempre acharam pouco o que eu lhes oferecia. Extraíram
de mim o que eu tinha de melhor. Destruíram gerações e gerações da minha fauna
e da minha flora. Fiquei pobre e doente. Quando meu estômago começou a se
revirar, com enjôos pelas porcarias que me fizeram engolir, comecei a vomitar.
Vomitei e ainda devo vomitar muito mais detritos e lavras. Estou muito
desgostosa e cansada. Talvez seja melhor mesmo que saiam da barra da minha órbita.
Quem sabe, depois disso, eu ainda tenho alguma chance de me recuperar?
- Não fica assim tão triste, Mãe-Terra! Olha, nós,
poetas, estamos preparando uma festa especialmente para ti. Vamos protestar
veementemente contra os maus-tratos dos nossos irmãos, trabalhar para
abrir-lhes os olhos, provocar mudanças significativas.
- Obrigada, filha.
- Não há de quê. É minha obrigação. Bem, para
encerrar esse telefonema, aí vai mais um versinho para alegrar tua noite:
“ Dorme em paz, Mãe-Terra querida
Que a deusa Gaia te mostre, em sonhos,
O resgate nos teus filhos do respeito à vida
E devolva à natureza seres risonhos”.
GUARÁ: MADEIRA DE LEI
Sandra
Fayad
Da primeira...
nunca se esquece,
Seja ela
inaugural - ou recomeço.
É numa casinha
da Dezessete
Que de
esperança me reabasteço.
É ali,
em frente à antiga feira
Que
tomo o ônibus do TCU
Para cumprir
a meta primeira:
Trabalho,
faculdade, volta ao lar
Bem
mais tarde, em outro baú.
Guará,
minha prancha resistente,
Na
minha vida você é mais:
É
casamento feliz de um irmão,
Surpresa
de filha lendo jornais,
É a colega,
amiga mais companheira;
É amor
que cruza caminhos demais,
É
primeira carteira de motorista,
Papagaio
afogado em enchente,
Visitas
e negócios com parente,
Feira!
Sempre ela na minha vida,
Casa da
Cultura e muito mais gente.
Se os
poetas e o Didi me dão guarita
E o
povo me aceita como residente,
O que é
que eu quero mais dessa vida?
http://www.sandrafayad.prosaeverso.net/
Parabéns, Adilson Codeiro Didi!
(poesia selecionada no Concurso Nosside):
Eu emprego o verbo
e um predicado
Despacho , não acho, o vulto
Para entender essa filosofia
Com ou sem verbo adulterado?
Amo o seu jeito meio obtusa
Sempre zeloso , não sou
indiscreto
Gosto de chegar ao eufemismo
Inimigo mortal do marasmo
Quer no transitivo e no direto
Já que sempre
participo do passado
Aliteração : repetição
de fonemas idênticas p/ obtenção de efeitos
estilísticos
Pleonasmo : redundância ,
usada p/ fortalecer o sentido
dos termos
(poesia selecionada no Concurso Nosside):
VERTENTES DO IDIOMA
Participo no presente
e no pretérito
No futuro ,
eu juro ,
estarei aliterado!
Procuro um
sujeito oculto
Chamo a matemática ,
geometria
¿O particípio
do passado
É ancorado no cateto e gerúndio
A soma
e o quadrado do mundo
Procuro em
vão a hipotenusa
Ma sou sujeito
dileto e indireto
Sou fã
natural do pleonasmo
Cuido permanente
do cataclismo
Sejamos, pois ,
meio intransitivos
Sou ainda
assim , a fim
do infinitivo
Chamo a vírgula ,
divido o concreto
O imperfeito
é um quase
pretérito
Sou mais
do imperativo afirmativo
O futuro
no presente é um
bom predicado !
Eufemismo: locução usada para amenizar o efeito de outra
palavra
Cataclismo: convulsão ,
mudança brusca
e radical nas pessoas/grupos .
www.adilsoncordeirodidi.com .br
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